Carta psicografada pára julgamento de homicídio
SOROCABA (SP) - Executado com 18 tiros há dez anos, o comerciante Paulo Roberto Pires teria mandado do além uma mensagem psicografada na qual inocenta o acusado de ser o mandante do crime. Parece o enredo de um filme de suspense, mas foi o que levou a Justiça de Ourinhos, no Sudoeste de São Paulo, a suspender o julgamento do réu Milton dos Santos, que estava marcado para o último dia 17. Ele seria julgado pelo Tribunal do Júri por homicídio qualificado.A carta psicografada numa sessão espírita, foi apresentada no processo como prova da inocência do acusado, que era concunhado da vítima.
O advogado do réu, Marco Antônio Martins Ramos, alegou que a mensagem de 11 folhas manuscritas foi psicografada pelo médium Rogério Leite, do Centro Espírita Paulo Ferreira, da cidade paulista de Lorena.Na tentativa de provar a veracidade do documento, ele juntou no processo fotos da sessão espírita e do médium. Num dos trechos do texto atribuído ao morto, ele diz esperar que a carta sirva para que ‘inocentem o Milton, para que ele prossiga a sua vida aproveitando-se da observação dos fatos para dirigir melhor sua família‘. O morto não aponta, no entanto, o verdadeiro culpado. Diz apenas esperar ‘que os culpados pela minha morte do corpo paguem suas culpas.‘O pedido de suspensão do julgamento, feito pelo promotor criminal Sílvio Brandini, foi deferido pela juíza Raquel Grellet Pereira Bernardi. A nova sessão ainda não foi marcada.
Ontem, o promotor revelou que, embora a carta tenha sido psicografada em 2004, só foi juntada no processo três dias antes do júri. Ele pediu que o documento, que tem quatro assinaturas do morto, seja submetido à perícia. ‘Não devemos misturar religião com Justiça, mas tudo indica que estamos diante de uma farsa.‘ Brandini solicitou a suspensão por temer que a carta pudesse ter alguma influência sobre os jurados. ‘Podem haver pessoas espíritas entre eles.‘Pires foi morto em abril de 1997 e três envolvidos no crime já foram presos e condenados.
Um deles, Edmilson Rocha Pacífico, na época com 25 anos, morreu na cadeia de Ourinhos em 2002. De acordo com o promotor, os réus acusaram Santos de ter contratado a morte do concunhado. Após o crime, ele foi nomeado procurador pela viúva e passou a administrar o patrimônio do comerciante, avaliado em R$ 15 milhões. Para o promotor, o motivo do crime foi financeiro. Santos aguarda o julgamento em liberdade. Ele não foi localizado.
Jornal Hoje em Dia, BH, MG, 29.05.07, p. 12.
Um comentário:
Na verdade a cidade é Ourinhos-SP, e no julgamento do dia 08-11, houve a absolvição do réu, e por mais uma vez nossos tribunais não falaram nada a respeito sobre a viabilidade do uso desse método como porva. No meu ponto de vista é que esse material, desde que comprovada a autoria gráfica pela perícia grafotécnica é prefeitamente viável como meio de prova.
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